RESUMO A contribuição dos modernistas para a construção de uma ideia de “cozinha brasileira” é analisada, neste artigo, a partir da perspectiva de Mário de Andrade (1893-1945) e de seu único texto inteiramente dedicado ao assunto, Tacacá com tucupi, publicado em 1939, pouco depois de ele ter lido Açúcar: algumas receitas de bolos e doces dos engenhos do Nordeste, de Gilberto Freyre (1900-1987). Por meio de uma leitura histórica do texto, procura-se demonstrar que a escrita se deu, por um lado, como uma crítica explícita aos chamados “bons comedores” – intelectuais apreciadores da gastronomia francesa, mas envergonhados das peculiaridades brasileiras –, e, por outro, como uma resposta tácita à visão regionalista do escritor pernambucano. Com ironia, Mário reconfigura o mapa culinário do país, ousando equiparar as comidas nacionais às francesas e sintetizando, por meio da culinária, alguns de seus importantes conceitos sobre a cultura brasileira.
ABSTRACT This article analyses the contribution of modernist writers and artists to the construction of an idea of “Brazilian cuisine,” through the specific perspective of Mário de Andrade (1893-1945) and his only chronicle entirely dedicated to the subject, Tacacá with tucupi, published in 1939, shortly after he had read Açúcar: algumas receitas de bolos e doces dos engenhos do Nordeste, by Gilberto Freyre (1900-1987). Through a historical reading of the text, this article aims to demonstrate that Mário wrote Tacacá com tucupi in order to explicitly criticize the so-called “good eaters” – intellectuals who used to appreciate French gastronomy, but were ashamed of Brazilian peculiarities –, and, at the same time, to tacitly contradict the regionalist bias of Freyre’s book. Ironically, Mário reconfigures the country’s culinary map, daring to equate national foods with French foods and synthesizing, through cooking, some of his important concepts about Brazilian culture.